- Candidatura das regiões Norte e Galiza espera decisão da UNESCO, que deve acontecer em Novembro
Ontem, no Porto, gravaram-se imagens e sons das crianças portuguesas que participam no projecto intercultural
O património musical comum ao Norte de Portugal e à Galiza é o mote para uma candidatura apresentada a Património Oral e Imaterial da Humanidade da UNESCO, baseada na «Tradição Oral Galaico-Portuguesa». Ontem, no Museu Romântico do Porto foi dado mais um passo nessa candidatura, já que foram ali gravadas partes de um CD e de um DVD do projecto «Meninos Cantores».
Trata-se de «um trabalho musical que é feito entre escolas galegas e portuguesas com um património comum que é o musical e cujo principal objectivo é que as crianças assumam o papel de transportar, alargar e transmitir esse património», explicou ao COMÉRCIO Santiago Veloso, cordenador da candidatura.
A ideia de elaborar um CD e um DVD surgiu há «três anos com a associação ´Ponte…nas Ondas´ que trabalhou o património cultural e musical da Galiza e do Norte de Portugal». Daí à apresentação da candidatura a Património Oral e Imaterial foi um instante. Havia depois que contactar escolas e esperar a reacção dos professores. «No começo do ano lectivo contactámos professores das escolas, em especial os professores de música, e fez-se um desenho do que seria este projecto de Meninos Cantores».
Santiago Veloso acrescenta então que será gravado um CD audio interactivo, com partituras e um livro com a descrição de vários momentos, de elementos sobre as escolas participantes e sobre o próprio património. O DVD terá um documentário de 50 minutos sobre o património musical, um viedo-clip de cada uma das escolas participantes (9 galegas e 8 portuguesas) e karaoke. No final do mês de Julho deverá o projecto estar concluído, estando então agora a proceder-se às gravações nas escolas. Em Novembro a UNESCO deverá emitir a sua opinião.
O projecto, assegura Santiago veloso, «tem custos muito importantes, sobretudo ao nível do equipamento» daí que se procurem patrocínios porque «não há dúvida de que este vai ser um produto de referência e serão muitos a querer agarrá-lo». Por isso também a sua convicção de que o património oral galaico-português será merecedor da candidatura da UNESCO. «Este será, aliás, um exemplo para a própria UNESCO, até porque há aqui a participação de escolas suas associadas e é um projecto de dois países europeus que estão a fazer um trabalho comum». Por outro lado, esta é a primeira candidatura ao património imaterial «conjunta de dois países e o facto das escolas serem, associadas da UNESCO será um factor determinante para a sua classificação», assegura aquele responsável.
Da mesma forma, a candidatura preenche todos os requisitos exigidos e tem as necessárias assessorias científicas.
Do lado português de salientar a participação do Rancho Folclórico do Porto, que colabora vivamente nesta acção, bem como as escolas EB 1 da Ponte, EB2,3 da Areosa, EB1 do Carvalhal, EB2,3 de Rio Tinto, o Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus e os Jovens Cantores da Trofa.
No conjunto estão crianças desde os cinco aos 17 anos que querem preservar a cultura dos dois países.
Recolha já suscitou novos temas e nova criação
O projecto «Meninos Cantores» começou por «assustar» os professores, como confidencia Santiago Veloso, mas «como temos dos dois lados bons professores e bons músicos logo se entusiasmaram com o projecto e não só foi feita recolha como já temos novos temas, novas versões, novas músicas». Isto porque, considera, a tradição musical não é estanque e é preciso criar para que nada se perca no futuro».
No dia 6 Maio, a associação «Ponte… nas Ondas» fará uma emissão de rádio simultãnea entre as duas regiões, para apoiar esta candidatura. Maria de Fátima Branco, professora do 1º ciclo da Escola EB1 da Ponte, foi uma das professoras entusiastas deste projecto, apesar de algumas dificuldades: «Nunca é fácil aplicar as nossas tradições aos contéudos programáticos, mas por outro lado é fácil trabalhar com estas crianças nos nossos valores porque elas estão abertas à nossa sensibilização». E, acrescenta, «se nesta idade ela aceita o seu passado, no futuro será, com certeza, um cidadão melhor».
A par do trabalho dos professores é de «realçar também o dos pais que estão abertos e sensíveis a este projecto». Carla Queirós, é mãe da Francisca, de 7 anos, e desde o ínicio que «os miúdos mostraram muito entusiasmo nesta actividade, o que acabou por contagiar os pais». Conta que «é uma experiência interessante porque também nós pais estamos a aprender a nossa cultura com eles e são eles que nos movem; acabamos por cantar com eles, ensaiar; há um espírito de colaboração muito grande».
Fonte: O Comércio do Porto